Nenhum caminho é longo demais quando um amigo nos acompanha.

A viagem mais importante que podemos fazer na vida é encontrar pessoas pelo caminho. Eu tenho a felicidade de ter encontrado bastantes. Acima de tudo, na vida, temos necessidade de alguém que nos obrigue a realizar aquilo de que somos capazes. É este o papel da amizade. O Elmer é uma dessas pessoas que encontramos pelo nosso caminho, conheci-o quando ajudava alguns pilotos privados no Dakar de 2006. Apesar de discreto e magrinho destacou-se imediatamente pela sua postura modesta mas muito dedicada. Fazia o seu segundo Dakar como mecânico, tinha o sonho de fazer este rally como piloto de moto e 2007 era o seu ano. Apesar de ser um piloto de talento confirmado, vencedor de várias outras provas e respeitado pelos melhores pilotos o Dakar sempre lhe fugiu. A derradeira prova de resistência conhecida por ser o Rallye mais duro do planeta é tambem uma das provas mais dispendiosas e por isso era necessário aguardar até conseguir condições para participar. Finalmente em 2007 ele tinha a sua moto e ia concretizar o seu sonho. Ficou hospedado na casa do Martins e utilizou a minha garagem como a sua base de preparação para cumprir finalmente o seu sonho. Era fácil ficar amigo do Elmer, a sua modéstia e simplicidade cativava qualquer um. A sua dedicação na preparação da sua moto era impressionante, apesar de extremamente metódico e minucioso era perceptível o enorme prazer que sentia por estar ali, finalmente a preparar a sua moto para o Dakar. Os seus objectivos eram claros, 2007 para aprender e chegar ao fim, 2008 para vencer! Mesmo nos momentos descontraídos a sua concentração era absoluta. Lembro-me que mesmo no jantar de Natal enquanto a minha mãe o empanturrava com doses repetidas de todos os pratos tipicos desta altura, ele de tempos a tempos puxava discretamente do seu bloquinho de notas e escrevia mais uma tarefa que se tinha lembrado entretanto. Já em prova o Elmer ficou bastante mais relaxado, acompanhado pelo Philip e pela Jualeen via-se perfeitamente que este era o seu ambiente natural, a sua felicidade transbordava e contagiava todos. A sua eficácia nas etapas deixou todos impressionados e os seus tempos nas etapas eram prova disso. A ultima vez que vi o Elmer foi em Portimão, dei-lhe um abraço e despedi-me até ao dia seguinte quando o encontraria algures em Marrocos. Durante a viagem para o reencontrar soube do acidente fatal. Não consigo até hoje descrever o que sentimos na altura, eu o Luis e o James ficámos silenciosos, destroçados, derrotados. Ficámos em Marrocos ajudando em tudo o que fosse possivel e tentando apoiar o Philip e a Jualeen, a única família do Elmer. Já de regresso a Lisboa, revendo as fotos do Elmer, lembrando das deliciosas tertulias com vários amigos lá na garagem, senti que ele partiu fazendo o que mais gostava, partiu realizando o seu sonho e haveria de estar feliz onde quer que estivesse. Eu o Carlos Martins, o Luis Lourenço e o Miguel Deus decidimos realizar a etapa onde aconteceu o seu acidente e terminar o que o Elmer começou no ultimo dia da sua vida. No fatídico quilómetro 142 deixámos uma pequena homenagem e juntos brindámos ao nosso amigo, acreditamos que foi uma boa forma de o homenagear. Podem ler aqui um texto com o diário desta viagem:!

Comentários

  1. 8.47 da manhã e vieram-me as lágrimas aos olhos.... é bom saber que ainda existem pessoas assim, quer seja cá em baixo, ou lá em cima...

    Obg por darem cor a este mundo cada vez mais cinzento...

    Abr!

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